Vestimenta

A Cultura Genuina do povo e suas expressões estão alicerçadas em tradições, em conhecimentos obtidos pela convivência em grupo, somadas aos elementos históricos e sociológicos. Seus legados e sua tradição, entre eles o seu modo de vestir, são transportados para as gerações seguintes, sujeitos a mudanças proprias de cada época e circunstancia. O Homem do Rio Grande do Sul adaptou sua vestimenta, baseado em seu tipo de vida e necessidades. O Gaúcho, "mestiço" cultural com outras etnias, foi, no primeiro momento, um homem caçador de gado, gaudério e jogador e esse aspecto de sua índole transpareceu no seu modo de trajar. O Chiripá, a bota de garrão, a camisa folgada e o poncho diziam muito de seu ser livre. Nada a apertar, nada a reprimir, nada a oprimir, pois seus movimentos eram sempre abertos e amplos. Nada podia haver que pudesse amarrá-lo, nem mesmo o seu traje.

Dentro do pensamento da cultura popular, tentamos resgatar, os trajes do gaucho em diversos momentos da nossa história.
A cultura é viva e, enquanto viva, ela se modifica. Sendo assim, a arte popular do trajar gaudério sofreu transformações que contam sua própria história, sua herança, numa evolução que lhe dá, além de beleza, identidade.

O GAUCHO GAUDÉRIO (1730 - 1820)

Antes que se tornasse Capitania, o Rio Grande do Sul foi percorrido por tropeiros. Interessavam-se eles pela criação de muares na região missioneira e serrana para levá-los à Feira de Sorocaba, na Provincia de São Paulo e depois às Minas Gerais. "As Minas Gerais, por exemplo, entrariam em colapso se não houvesse as mulas transportando o ouro, pela região extremamente montanhosa, até o porto do Rio de Janeiro".
Os tropeiros chegaram ao Rio Grande do Sul passando inicialmente por Curutiba e Vacaria; pelos caminhos de Laguna e Morro dos Conventos, desceram para Araranguá, Torres e Santo Antônio da Patrulha. A rota dos tropeiros atingiu tambem as Vacarias Del Mar. Num ambiente hostil, onde a sobrevivência era a primeira preocupação, esses homens defrontavam-se com contrabandistas, outros tropeiros e indios. Muitas vezes, eles pediam apoio ao indigena para guiá-los ou auxilia-los a combater inimigos.

CARACTERÍSTICAS DO TRAJE DA PRIMEIRA ÉPOCA: (1730 - 1820)

PEÃO:






Pés descalços ou botas de garrão abertas ma frente e amarradas abaixo dos joelhos
com tiras de couro. Esporas, ceroulas por dentro das botas ou nas pernas nuas.
Chiripá-saia e cinturão de couro sobre a faixa de tecido. Boleadeiras e pistola
presas na cintura. Faca às costas, junto aos rins. Camisa com mangas amplas.
Colete e poncho bichará. Na cabeça, os cabelos longos são amarrados por tira
de couro ou lenço à marinheira. Usa-se o chapéu de palha ou de feltro.









MULHER RURAL:






Usa saia rodada de tecido de lã leve e camisa longa de algodão, ou ainda
o vestido de indiana. Pés descalços. Usa os cabelos longos e trançados,
por vezes com um lenço na cabeça amarrado abaixo do queixo.












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ESTANCIEIRO:






Usa meias e ceroulas de crivos ou de rendas. Botas fortes ou de garrão e esporas
de prata. Calções desabotoados abaixo dos joelhos, gibão de veludo ou de lã
com botõesde moedas de prata. Colete de seda ou algodão sobre a camisa de
linho acabada por rendas. Lenço pequeno no colarinho. A cintura, leva o
cinturão sobre a faixa estreita, bem como a pistola. Na mão, o chicote tipo
arreador, e na cabeça, o lenço à marinheira e o chapéu de feltro de copa alta
e barbicacho de seda. No ombro, o pala de seda ou de lã leve de vicunha.








ESTANCIEIRA:







Sapatos e meias de seda, anáguas e corpete. Vestido de seda ou algodão, com
corte abaixo do busto. Leque e lenço na mão e jóias em excesso. Agasalha-se
com capote ou xale. Na cabeça, os cabelos longos são presos com fita e flores.











O GAUCHO CHARQUEADOR: (1820 - 1865)

O Gaucho da segunda época é o estancieiro ou o charqueador. Ocupado com o comércio de couros e com outros derivados do gado, como o sebo, a crina e os cornos, o charqueador reune, nos limites do curral, onde mantem os bois vivos, o matadouro, o secadouro e as caldeiras. A charqueada ou o saladeiro (secamento da carne salgada) traz para si uma necessidade maior de mão-de-obra, fazendo com que o charqueador procure assim o mestiço, o indio ou bugre e o gaudério, já que o negro é insuficiente para a lida. O Gaucho, o gaudério, começa a se tornar um homem mais procurado.

Sua coragem e destreza na lida do campo e na preparação do charque são
reconhecidas pelos donos de estâncias. Estas são compostas por gauchos que
formam uma pequena sociedade: o patrão ou estancieiro, ou charqueador, o
capataz e os peões. Essa situação reforça o esquema sócio-econômico do momento
onde as hierarquias são definidas.
Com os problemas na venda do trigo, o gado se constitui, através das charqueadas,
a grande riqueza da Provincia e ele cresce numeroso nos pastos abertos da estância.
Cresce tambem o numero dos charqueadores e estancieiros. "Os charqueadores
compram o gado dos estancieiros; mandam matá-lo e retalhá-lo; a carne é salgada
e, depois de seca, vendida aos comerciantes".


Quando os compradores do norte vem buscar o charque para suprir necessidades da região, encontram mulas e, por vezes, éguas xucras no lugar de cavalos, pois essas são desprezadas pelo gaudério domador. "Os estancieiros portugueses não montam em éguas". (segundo Fernando Assunção, o receio do cavaleiro em cavalgar uma femea era devido a possibilidade de o bagual poder atacar o cavaleiro para arrebanhar a égua).

O Cavalo é a força desse homem e com ele consegue percorrer as terras e domar
todos os animais que aparecem na planicie. Seus movimentos são os de sua montaria
e vice-versa. Os arreios são o seu maior orgulho e a indumentário um complemento.
"Pode-se reconhecer na vestimenta do cavaleiro o manto espanhol adotado pelo
rico habitante do Rio Grande, cujas terras confinam com o território de Montevidéu.
Os estribos de madeira enfeitados de prata, bem como o resto dos arreios do seu
cavalo são, ao contrário, de formas portuguesas importadas no Brasil. Quanto ao
grande chapéu de palha, preso ao queixo por um cordão de pingente, é ele usado
por todos os viajantes da America do Sul".



O Gaucho faz os seus arreios com arte. Prepara o couro a tempo. As mantas, xergas e chinchas, bordadas delicadamente com fio de lã colorida, mais se parecem com tapeçarias. Todas as artes metálicas usadas em suas selas, estribos e freios, são de prata e esse metal recobre parcialmente tambem as redeas.

Estas podem ser tambem totalmente feitas de malha de prata, integrando-se às outras peças de couro do aparato da montaria. O adorno do cavalo é motivo de comentários de vários escritores que por aqui passam e é, sem sobra de dúvida, a demonstração da posição social em que se encontra o cavaleiro.

As vestes, neste momento, não tem grandes modificações, sendo o poncho, as calças e casacos de bayeta ou de algodão, conforme a estação, a indumentária básica.

O final do século XVIII é muito importante para o posicionamento do carater do gaucho. Mesmo com a possibilidades de ter terras e criação de gado, o indio mestiço não se torna um elemento enquadrado na sociedade econômica. Continuando a ser nômade, traz sua familia consigo. No entanto, quando o peão, ainda não se apega aos patrões e a inconstância é mais forte, fazendo-o partir seguidamente para outra lida.

Os gauchos estancieiros ou charqueadores, quando em cerimonias oficiais, se trajam com o fraque complementado por camisa com rendas, colete e meias de seda brancas, sapatos com fivela e calça branca seguindo a moda europeia da época. Preocupados com sua aparência, são influenciados no dia a dia pelas tendências da corte, pelo traje militar e tambem pelo homem do campo, seu companheiro de lidas. Fazem uso do manto espanhol, e do chapéu de palha com barbicacho.

As carcteristicas do homem do campo vão mudando. Sua miscigenação aparece
através da pele mais clara e olhos vivos, sendo audacioso e determinado. O uso
do lenço amarrado na nuca sobre os cabelos é fundamental. Quando não o leva
na cabeça, leva-o ao pescoço, frouxo ou com pontas caidas. A camisa é branca
com mangas arregaçadas. As ceroulas de franjas são complementadas pelo
chiripá fralda, passado entre pernas e riscado de vermelho.
Sem influência definida, o chiripá fralda vai substituir o chiripá-saia nessa época.
"O periodo histórico é dominado por um novo tipo de chiripá que substitui o
anterior em forma de saia. Este obviamente não era adequado à equitação, mas
sim a tipica indumentária do pedestre, feita para o homem que anda a pé. Já o
novo chiripá, em forma de grande fralda passada entre as pernas, adapta-se bem
ao ato de cavalgar e essa é certamente a explicação pára o seu aparecimento entre
os gauchos de tres pátrias (Brasil - Uruguai - Argentina).

A guaiaca com bolsinhos de couro se torna de uso permanente, como tambem a
bota de garrão ou não. As esporas são defenitivas e usadas com ou sem as botas.
Com a crise dos saladeiros no prata, decorrente das guerras de independência,
as atividades charqueadoras daquela região se desorganizam e o gado platino
é encaminhado para as charqueadas rio-grandenses.
Esse beneficio, provindo da desorganização dos concorrentes, é incentivado
ainda mais com a anexação da Provincia Cisplatina ao Brasil, em 1820. Nesse
momento, solidificam-se os nossos interesses na Campanha Uruguaia, quando
se estabelecem estâncias na nossa região e se recolhe matéria-prima para
as nossas atividades de charque.



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CARACTERISTICAS DO TRAJE DA SEGUNDA ÉPOCA - (1820 - 1865)

PEÃO:







Botas fortes ou de Garrão, ceroulas de franjas, chiripá-fralda, faixa na cintura
e cinturão com bolsos. Camisa branca, colete de algodão ou seda, jibão e
lenço no pescoço ou na cabeça. Poncho "Pátria", forrado de vermelho, e faca.
Chapéu, tirador e laço. Esporas de ferro ou prata.











MULHER RURAL:









Blusa de mangas com acabamento em rendas, saia longa e rodada
complementada com casaquinho cortado à cintura de tecido leve. Travessas
ou flores no cabelo preso. Usa, mais tarde, a sombrinha.
A saia tem, em sua barra, um babado franzido ou de pregas.











ESTANCIEIRO OU CHARQUEADOR:






Botas russilhonas ou "granaderas" levantadas e calças por dentro das botas,
sendo esta com recorte triangular na braguilha. Faixa na cintura e cinturão com
enfeites de moeda e rastra (adorno geralmente em prata de forma circular ou
ovalada, que podem levar as iniciais de seu dono ou a marca do estancieiro).
Camisa de algodão ou seda branca com rendas. Gravata de seda tipo tope,
colete de seda ou algodão transpassado e gibão de veludo ou lã com botões
em prata. Na cabeça, leva o chapéu de copa alta. Nas costas, junto aos rins,
a faca e, na mão, o chicote tipo arreador. Junto as botas, as esporas de prata.








ESTANCIEIRA:







Vestido longo de seda ou veludo, com corte na cintura. Decote mais ou menos
amplo com o colo a mostra. Mangas bufantes até o cotovelo e justas até o pulso.
Broche no pescoço e brincos. Cabelos presos com travessa ou flores.
Leque na mão. Quando ao ar livre, usa chapéu com laços de fita e penas
de avestruzes. Mantilha sobre o coque somente quando vai à igreja,
ou sobre os ombros quando ao ar livre.






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O NOVO GAUCHO:

A Terceira época é um peiodo de trasnformação. As influências da modernização transmitem significativas mudanças na vida do gaucho. As taipas são substituidas por cerca de arame, o lampião, por luz elétrica, o mensageiro, por telefone, o cavalo pelo carro. O gado vacum é aprimorado para o corte ou leite, e o cavalar é especificado para tração ou cavalgar. O fazendeiro é um empresário preocupado em aperfeiçoar sua cultura e sua gadaria. As técnicas nacionais e internacionais de ponta na agropecuária são adaptadas visando ao desenvolvimento dos negócios do Rio Grande.

O peão, o empregado rural, o tratorista e o capataz o acompanham; o homem
da cidade se empenha na indústria e no comércio e assim o Rio Grande cresce.
O gaucho, que nasceu indio, mestiçou-se, tornou-se gaudério e depois fazendeiro,
peão, homem rural ou de estância, traz consigo ainda uma indumentára confortável
e livre. Sua figura e seus hábitos lhe conferem o direito de ser um homem de bem,
respeitado pela sua índole hospitaleira e justa.
Homem ordeiro, organizado, trabalhador e defensor de sua pátria, o gaucho da
terceira época está de bombachas e é um novo gaucho. "Nas guerras de independência
do prata ou nas campanhas do sul, lanceiro, miliciano... para o homem da cidade,
trabalhador rural, o homem afeito aos serviços do pastoreio, o peão de estância,
o agregado, o campeiro, o habitante da campanha, na poesia popular, um sinônimo
de bom ginete, campeiro destro, com tendência para identificar-se com os termos
guasca e monarca, e, finalmente para todos nós, um nome gentílico, a exemplo de
carioca, barriga-verde, capichaba, fluminense".



Esse gaucho assimila mudanças no seu trajar. Os antigos chiripás vão aos poucos desaparecendo, sendo substituidos pelas bombachas. Junto a bombacha, o gaucho rio-grandense veste a camisa de mangas arregaçadas, o cinturão ou a guaiaca, a bota forte, o lenço no pescoço, o chapéu de feltro e o pala.

Conforme pesquisas efetuadas por vários historiadores sul-americanos, as bombachas, por serem confortáveis, são adotadas pelos francese na guerra da Criméia, por volta de 1855. São tambem usadas na Guerra contra a Itália, em 1859, pela cavalaria gaulesa. As bombachas, originárias do sarouel dos Zuavos, teriam se ajustado à moda francesa, tornando-se uma vestimenta permanente entre seus soldados.

Com o pedido de independencia de suas colonias americanas, os franceses teriam trazido para a América seus soldados vestidos com bombachas para enfrentar os mexicanos, em 1863. Os Ingleses e os Portugueses tambem teriam usado as bombachas, bem como os camponeses espanhóis em suas provincia da Maragateria, Leon, Astorga, Galícia, Murcia, Valência e Andalucia.





No Brasil, a bombacha aparece primeiramente no exército do rio e São Paulo,
sendo depois transferidas para as roupas militares do sul. No entanto, o
comércio provindo da fronteira uruguaia tambem facilita sua penetração em
Rio Grande, espalhando-se em seguida por todo o Estado.
"Esta peça agora não tem fundilhos caídos; apresenta bragueta com botões;
pernas definidas, embora ainda amplas e conservando as pregas
tradicionais, além de punho para fixação junto ao tornozelo.
Fixaremos, como data provável da entrada da bombacha no RS, o
mesmo momento da Guerra do Paraguai, em 1865. Com a Tríplice Aliança,
Brasil, Uruguai e Argentina, o exército brasileiro recebe as bombachas e
as leva consigo na volta a sua casa.
È uma honra vesti-las, tornando-se cada vez mais incorporadas ao uso diário.
Da Guerra vão às festas, das festas vão aos dias comuns e assim
permanecem até hoje.
O Gaucho veste, ainda, a camisa, a faixa, a guaiaca, o lenço no pescoço, a faca,
a pistola, as botas, as esporas e o chapéu de feltro ou palha. O casaco acompanha
o pala ou poncho. O gaucho tambem fuma o palheiro e, quando a cavalo, leva o
chicote ou rebenque, a guampa, o laço e a sacola de couro.




O folclorista Paixão Côrtes pesquisou junto aos descendentes, o periodo de 1870-1900, recolhendo as vestes do final do século passado encerradas em baús. Os trajes encontrados por ele pertecem a homens e mulheres do interior agro-pastoril.

As regiões pesquisadas foram o Alto Uruguai, o Planalto Médio, os Campos de Cima da Serra e Litoral, escolhidas por terem sidos menos afetadas pelo progresso no RS. A travessia do rio das Antas, dis o pesquisador, e a própria serra eram maior empecilho à entrada de novidades do que a fronteira, mais populosa e mais fácil de ser ultrapassada.

Paixão Côrtes encontrou os tecidos de berbutina (espécie de veludo) para estofar selins e sapatos; merino (lã leve) para fraques, capinhas, roupões, saias e chiripás; mescla ou mesclão (brim resistente de algodão) para saiotes e calças; casemira para saiotes, roupões e fraques; o brim, o gurgurão, o fustão e o tafetá para as mais variadas peças; o veludo e o riscado para casaquinhos, vestidos e saias; a chita e a cássia (com flores muito miudas) para vestidos; o picote, feito artesanalmente (de lã ou mescla com algodão), para botas, saias, casacos e chiripás, sendo feita a comprovação de seu uso desde o século XVIII; assim como a bretanha (tecido leve provindo da Inglaterra); o algodão pardo, de pouca qualidade; a baeta, a baetinha e o baetão (tecido cardado), que variava sua denominação conforme sua espessura e era usado em roupas femininas, (em espanhol bayeta, e em italiano, baeta); o percal (tecido mais leve), usado principalmente na fronteira; e riscado de pouca qualidade e grosseiro; o nobre e a lia (seda) de cor preta, engomada e muito lustrosa; a cetineta para vestidos e blusas; o morim e a saragoça (lã escura); o duraque para calçados femininos; a estamenha (lã grosseira); o droquete (de algodão ou seda), para estofos, a vicuña (lã levissima).


Com o inicio da colonização italiana, em 1875, na serra
gaucha, houve novas interferências na maneira de
vestir no RS. Povo dedicado principalmente à
vitivinicultura e à agricultura, os imigrantes
italianos trouxeram elementos para a cultura do
estado, como a criação do bicho-da-seda, a tecelagem
de linho, os bordados, o trançar da palha de trigo,
a prataria, e as rendas que, até hoje, identificam
a arte popular do Rio Grande do Sul.
O Imigrante italiano usa calças de brim riscado, camisa
de algodão sem gola, chapéu de palha de trigo
trançada, dressa ou de feltro e, à cintura, um cinto.
Usa botas, tamancos ou chonelos de couro, colete e
paletó. No pescoço, leva um leno, herança gaucha.
Quando senhores, usam a calça, o casaco e o gilé,
- colete - , gravata e relógio no peito, preso ao colete
com corrente de ouro ou prata.
A mulher, sempre de avental no dia-a-dia, inicialmente traja saia longa e bata ou blusa ou, ainda, um vestido longo,
de preferencia escuro, enfeitado em seu peito com rendas manuais.

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CARACTERÍSTICAS DO TRAJE DA TERCEIRA ÉPOCA - (1865 - 1950)

O GAUCHO CITADINO:








Usa camisa branca com colarinho e terno completo composto de:
calça corrida, colete e paletó. Gravata de nó ou tipo borboleta.
Usa o relógio no bolso do colete.










A MULHER CITADINA:






A mulher do final do século usa um vestido de seda com corte em V na
cintura, jabô e fichu de rendas. As mangas são retas ou bufantes até
o cotovelo e depois se ajustam. Segura o leque e, por vezes, a sombrinha.
Leva broche e brincos. Os cabelos estão presos por travessas. Nos pés,
usa as botinhas ou os sapatos fechados.










O GAUCHO FAZENDEIRO:








Usa bombachas e botas fortes. Colete e paletó. Camisa e lenço brancos e
cinturão sobre a faixa. Chapéu de feltro e pala. Esporas de prata e chicote.













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O GAUCHO TRADICIONALISTA: (1950 ATÉ .....)

Em meados do século XX, ocorrem novas mudanças no Rio Grande do Sul, não só a nivel econômico e social de modo geral mas tambem nos nossos costumes e no nosso folclore. As telecomunicações acrescem a televisão e o mundo se torna cada vez mais semelhante, a moda se torna universal.

Alguma coisa, no entanto, cresce no peito do gaucho - São nossas diferenças com o mundo lá fora, são nossos costumes. É a nossa cidadania, é nossa raça, tão mesclada, mas tão clara. É nossa consciência de sermos elementos batalhadores, especiais, que grita. É hora de mostrarmos ao mundo do que nós, gauchos, somos capazes, do que gostamos, quais são nossas músicas, quais são nossos hábitos, quais são nossas habilidades.

A miscigenação já está feita. Os portugueses, espanhóis, africanos, poloneses, franceses, ingleses, alemães e italianos que se integraram ao nosso indígena resultaram numa "raça" só - a gaucha. Mas esta raça não sabe ainda mostrar suas origens históricas, seus costumes nativos, sua maneira de ser.

O movimento tradicionalista uruguaio, movimento iniciado no séc. XIX mostra o caminho aos jovens cultuadores de nossa tradição. Assim sendo, fundam-se no Rio Grande do Sul CTG's - Centros de Tradições Gauchas, com a finalidade de mostrar a cultura gaucha e perpetuá-la, com a maior precisão possivel, através de sua musica e de sua sociabilidade.

Estudam-se então, as danças, os cantos, as poesias, as falas do gaucho de antigamente. Estudam-se os hábitos do chimarrão, da lida do campo, dos rodeios, das carreiras, dos gauchos Rio Grandenses. E estudam-se os trajes de outrora. O Rio Grande do Sul quer mostrar estes detalhes ao público nacional e internacional. Sua personalidade deve ser exposta.

Investiga-se a história do Rio Grande e do gaucho nos trabalhos dos visitantes do exterior, nas pinturas e desenhos de estudiosos estrangeiros dos séculos XVIII e XIX, e encontra-se nesses estudos as roupas usadas pelos Rio grandenses do sul, "a pilcha" do gaucho brasileiro. Perdem-se, no entanto, através do tempo e da moda, as vestes femininas. A mulher gaucha do nosso final do século segue a moda francesa como qualquer outra mulher do mundo civilizado.

"E então?" - Pergunta Barbosa Lessa, perto de 1950:
"E como é os vestido das moças? Como modelo aproximado, só havia os vestidos das festas juninas de São Paulo, ou as folhinhas anuais distribuidas pelas Cia. Alpargatas, na Argentina. Paixão encasquetou que deviam ser vestidos compridos até os tornozelos. Eu argumentei que se nós, rapazes estavamos trajando nossas costumeiras bombachas, não carecia que as moças se voltassem para tão longe nos antigamentes; isto não chegou a ser posto em votação, mas o bigodudo do Paixão nos venceu no cansaço". (BARVOSA LESSA, Luiz Carlos. Nativismo. L&PM Editores, Porto Alegre, 1965, p.66)

O homem gaucho veste, desde o século XIX, a bombacha, e é assim que será representado nos eventos que marcarão o Movimento Tradicionalista Gaucho. As Mulheres serão vestidas de "Prenda", conforme regras implantadas pelo MTG - Movimento Tradicionalista Gaucho, regras estas aceitas por todos os CTGs que se fundarem mesmo décadas depois.

Segundo os dirigentes do MTG, os trajes históricos da gaucha de século XIX e inicio do XX eram muito tristes, (por serem de cores sérias entre os cinzas e beges), e não eram práticos para dançar em palcos, (por terem o corpo justo e a saia pouco ampla). Na verdade, concordamos que a gaucha desse periodo era recatada e muito censurada, mas nos preocupamos e perguntamos, como historiadores, se, apesar disso, ela não cantava ou dançava. Se essa mulher tinha ou não uma vida social. Seu traje de época não a impediu do convívio social dessa ocasião. Nos perguntamos, ainda, até onde a verdade histórica pode ser alterada por grupos que desejam ser Tradicionalistas Modernos, forçando uma substituição de vestes históricas pela desculpa da praticidade no dançar.

Se a tradição significa trazer ao conhecimento o que é de fato a maneira ou o modo de ser e de fazer de um grupo social, nos parece contraditório que justamente o movimento tradicionalista se permite mudar uma tradição de vestir.

No entanto, concordamos que a verdade é simples: o traje da Prenda prevalece hoje sobre o traje histórico da mulher gaucha, seja por falta de informação das usuárias, seja por falta de vontade destas, ou ainda, pelas normas dos CTGs a que estão filiadas e que regem as regras para a vestimenta de seu grupo.

Estas regras determinam as características do traje feminino desde os anos 50 e são especificadas conforme propostas fornecidas por sucessivas diretorias. No nosso estudo, transportamos, para exemplificação, a norma apresentada pelo estudioso do IGTF - Instituto Gaucho de Tradição e Folclore, Luiz Celso Huarup, no Congresso Tradicionalista realizado em Porto Alegre, em 1989.
"Proposição aprovada no 34º Congresso Tradicionalista realizado em Caçapava do Sul em 07.01.89 - Autor - Luiz Celso Gomes Hiarup

TRAJE DA PRENDA

1 - O Vestido deve ser de uma peça, com a barra da saia à altura do peito do pé.

2 - A quantidade de passa-fitas, apliques, babados e rendas, é de livre criação.

3 - O vestido deve ser de chita estampada ou lisa, sendo facultado o uso de tecidos sintéticos com estamparia miuda, ou peti-pois.

4 - Vedado o degote.

5 - Saia de armar, quantidade livre.

6 - Obrigatório o uso de bombachunhas rendadas ou não, cujo comprimento deverá atingir a altura do joelho.

7 - Mangas até os cotovelos, 3/4, ou até os pulsos.

8 - Lenço com pontas cruzadas sobre o peito, ou fichu (de seda com franjas ou croché) uma ou outra peça. presa por broche ou camafeu. Facultativo o uso do xale.

9 - Meias longas, brancas ou coloridas, não transparentes.

10 - Sapato de salto grosso, tipo escolar, que abotoa do lado de fora por uma tira que passa sobre o peito do pé.

11 - Cabelo solto ou em trança (unica ou dupla), enfeitado com flores ou fitas. Vedado o uso de coque, para solteiras.

12 - Facultado o uso de brincos de argola inteira, de metal, vedados os de fantasia ou plásticos.

13 - Permitido o uso de pulseiras de aro de qualquer metal. Não aceitas as pulseiras de plástico.

14 - Vedado o uso de colares.

15 - Permitido o uso de um anel de metal em cada mão. Vedados os de fantasias.

16 - É permitido o discreto uso de maquiagem facial, sendo vedadas as sombras e batons brilhantes, lilazes ou roxos.

17 - Vedado o uso de relógio de pulso.

18 - Livre criação, quanto à cores, padrões e silhueta, dentro dos parâmetros acima enumerados. (Documento em 1989)

Estas determinações foram fundamentais para os concursos oficiais dos eventos tradicionalistas da época.

O movimento tradicionalista se tornou tão popular no Rio Grande do Sul, que o traje característico do gaucho, a pilcha, antes antagonizado por todos os citadinos, é hoje orgulhosamente levado no trabalho, no lazer e nos atos oficiais.

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Dentre os movimentos que procuram fixar as raizes e a cultura do nosso povo se encontram os musicais, como a Califórnia da Canção, o Musicanto, a Primavera da Canção, entre muitos outros. Nascidos e criados para serem encontros da poesia gaucha, os vários movimentos musicais do Rio Grande do Sul conseguem agregar, hoje, o gaucho rural e campeiro com o gaucho citadino. Com letras empolgantes, marcha-se para limpa-bancos, milongas, rancheiras, xotes, e valsas..., para uma musicalidade mais moderna, mais abrangente, com instrumentos novos e com pilchas gauchas. Nesses encontros afloram os sentimentos do gaucho muitas vezes esquecidos ou guardados na nossa história. Aí surgem rimas crioulas que lembram histórias do RS, lembram os causos, as guerras, os costumes, as pilchas e os amores do gaucho.

"Quero gaita de oito baixos
Pra ver o ronco que sai
Botas feitio do Alegrete,
Esporas do Ibirocai...."(BATISTA MACHADO, João. Guri)

"No pampa, meu pala a voar
esteira de vento e luar..."(FOGAÇA, José. Semeadura)

"Avental de estopa,
faixa na cintura,
e um gole de pura
pra 'espantá' o calor". (LIMA FREITAS, Telmo - Esquilador.)

"Se troveja gritaria
já relampeja minha adaga
Quem não mostra valentia
já na peleia se apaga". (CORONEL, Luiz - Gaudêncio 7 Luas.)


Outros eventos propiciam o encontro do nosso homem pilchado. É a Cavalgada do Mar, o Passeio da Bombacha, os Leilões e as exposições de gado, o desfile de 20 de setembro ou desfile Farroupilha.

São os rodeios, difundidos pelo Estado todo, onde, junto às habilidades do homem campeiro, são mostradas a publico seus arreios domingueiros. Motivo de encontro da moçada e do namoro, todo o rodeio mostra o melhor ginete, o melhor corredor, o melhor laçador, o melhor cavalo. Mostra tambem a nossa pilcha, caprichada e completa, num gaucho que terá que terá de mostrar que continua sendo bom de lida, bom de laço e de rédeas.

O gaucho do fim do século XX aprendeu a cultuar o Rio Grande do Sul. Os clubes sociais das cidades apregoam a volta as origens. Assim sendo, há fandangos com pilchas. As fábricas incentivam seus grupos folclóricos a dançarem e mostrarem nossa roupa tipica. Os restaurantes servem o churrasco com música e danças gauchas ao vivo, com a rapaziada pilchada. Os colégios tratam de ensinar o respeito ao Rio Grande do Sul e suas tradições. Não há nada forçado nisso, a gauchada gosta. Tanto é verdade que não é dificil encontrarmos a bombacha e as alpargatas em pés de diretores de empresas quando em seu descanso. É comum encontrarmos o fazendeiro e seus peões vestindo a mesma pilcha.

O IGTF, Instituto Gaucho de Tradição e Folclore, preocupa-se em nortear os estudos e as pesquisas sobre os nossos usos e costumes. O movimento Tradicionalista Gaucho lidera mais de mil Centros e Piquetes de Tradições Gauchas (CTGs) somente no Rio Grande do Sul. Há os de Santa Catarina, os de São Paulo e quantos mais pelo País. Há registros tambem de CTGs fora do País.

A Lei Estadual nº 8813, de 13 de janeiro de 1989, oficializa a partir desta data o uso da pilcha gaucha em momentos oficiais.

O gaucho é o brasileiro rio-grandense do sul. É um homem que conhece o seu Estado e respeita sua terra. É um homem que homenageia seu pago com suas músicas e suas poesias. Estuda e historia sua raça e sua gente, cultiva seu chimarrão, sua pilcha e suas raízes. É um homem que sabe que ser gaucho é representar o Rio Grande do Sul e por isso trabalha por ele. E sabe, tambem, que ser gaucho é ser único e aí está a beleza de sê-lo. Sabe ainda que ser gaucho... é ser gaucho, tchê! E isto basta.

O PEÃO:










Usa bombachas de favo ou pregas, alpargatas ou botas fortes e
chapéu ou boina, camisa listrada ou xadrez, jaqueta de brim ou lã,
guaiaca e poncho. O lenço no pescoço, a faixa e o colete aparecem
vez por outra. Usa a faca e a chaira. Não rara vezes, vê-se o
peão calçando chinelo-de-dedo, galocha ou chinelo de couro.
Suas esporas são de ferro.
















A PRENDA:







Usa o vestido de prenda com saia rodada e com babados,
ambos de tecido de algodão, com estampado miudo, de
"broderie" ou de tecido de cor lisa. O corpo justo é fechado
no pescoço, levando enfeites em rendas ou do mesmo tecido
do vestido. As mangas 3/4, bufantes ou não, vão até o cotovelo
e babados dão o acabamento. Quando não leva babados no
corpo, carrega um fichu em renda crochê preso pelo broche.
Meias brancas, bombachinhas e sapatos pretos. Xale de lã em
renda crochê é o agasalho. Os cabelos presos ou solto levam
uma flor, e nas orelhas, os brincos balançantes.










Encontro de estudiosos dos usos e costumes do gaucho por ocasião
do seminário de lançamento da Edição desta pesquisa.

LIVRO: GAUCHO - Vestuário Tradicional e Costumes
Vera Stedile Zattera - 1995